Vacina da febre amarela produzida por Biomanguinhos (Fiocruz), laboratório público brasileiro (Foto: TV Globo/Reprodução)
Com o aumento do número de casos e o surto da forma silvestre da febre amarela em regiões antes sem risco de transmissão, a demanda pela vacina aumentou exponencialmente.
Resultado: faltam vacinas em clínicas particulares e o governo brasileiro decidiu fracionar a dosepara dar conta da demanda (uma dose antes aplicada em uma pessoa será aplicada em cinco).
Mas por que isso ocorreu? Quem produz a vacina? Como estão os estoques? Quanto custa? Como a vacina é produzida? Dá para aumentar a produção?
Essas são perguntas que podem nos ajudar a entender esse novo cenário. Alguma das principais dúvidas sobre a produção da vacina abaixo.
Atualmente, há dois principais produtores de vacina contra a febre amarela que é oferecida no Brasil: a Fiocruz, que é um laboratório público; e a Sanofi, indústria privada com sede na França.
A Fiocruz, por meio do laboratório Bio-Manguinhos, é o maior produtor mundial da vacina e o único nacional. A vacina da Fiocruz, no entanto, é distribuída apenas no Sistema Único de Saúde; em situações eventuais, o laboratório pode produzir para outras regiões do mundo, como o fez para Angola, em 2016.
Já nas clínicas particulares, o fornecedor da vacina é a Sanofi.
Vacina disponível em centros particulares é importada; dose é de 0,5 ml (a padrão)
Nos hospitais públicos, a vacina é distribuída gratuitamente para áreas com recomendação e para pessoas que vão viajar para regiões consideradas com maior risco. Confira a lista de municípios atualizada até dezembro de 2017.
Em clínicas particulares, a vacina é vendida a preços que variam entre R$130 e R$ 200.
Atualmente, no entanto, só há vacinas nos hospitais públicos, que vão fracionar o produto para atender a demanda.
Já nas clínicas particulares, a Sanofi informa que o próximo lote deve chegar no final de fevereiro. Mundialmente, a vacina da empresa é conhecida como "Stamaril"; já a vacina pública, não tem um nome específico.
A Fiocruz informa que o governo brasileiro gasta R$ 3,50 para produzir cada vacina. Já a Sanofi, diz que "o número e o custo por dose não pode ser divulgado, pois se trata de dado estratégico e confidencial da empresa."
A vacina da Fiocruz é produzida a partir de um vírus atenuado. Isso quer dizer que o vírus da febre amarela foi enfraquecido para deflagrar uma resposta do sistema imune sem que a doença, de fato, se desenvolva.
Depois de atenuado, o vírus é introduzido em ovos para serem multiplicados -- por isso, quem tem alergia a ovo não pode tomar o imunizante.
Dentro desses ovos, o vírus fecunda o ovo e se torna um embrião. Depois, eles são triturados e congelados. A vacina, nesse estágio, passa por sua primeira fase de testes.
Depois, são introduzidos estabilizadores para prolongar a vida útil da vacina. Novos testes são feitos e a vacina é liberada para uso.
A Sanofi informa que sua vacina "passa por um período de produção longo e complexo que inicia-se com a inoculação do vírus vivo atenuado no ovo da galinha" -- processo similar ao feito pela Fiocruz.
A Fiocruz informa ser possível produzir e fornecer mais de 60 milhões de doses de vacina por ano, mas não deu informações sobre estoque.
A entidade disse que forneceu 64 milhões de doses em 2017. Para 2018, a instituição diz que separou 48,7 milhões de doses para o Programa Nacional de Imunizações -- iniciativa centenária do governo brasileiro que tem por objetivo a vacinação em crianças e de outras populações-alvo a serem definidas (no caso da febre amarela, aquelas que vivem ou vão viajar para áreas de risco).
A Sanofi informa que não divulga a produção de doses, nem seu estoque, por questões relacionadas à estratégia de negócios, mas diz que a vacina da febre amarela já teve distribuição "de mais de 400 milhões de doses ao redor do mundo desde 1979".
A empresa diz também que aumentou a produção em 300% em 2017.
A Fiocruz diz que um aumento na capacidade de produção depende de uma decisão do Ministério da Saúde e que, atualmente, consegue atender a demanda do Programa Nacional de Imunizações.
"Essa questão depende da estratégia vacinal e da demanda programada do Ministério da Saúde", respondeu a assessoria de Bio-Manguinhos.
Já a Sanofi não respondeu se é possível aumentar a capacidade, mas informa que, em 2014, a empresa inaugurou uma nova unidade de produção de vacinas da febre amarela no espaço industrial em Val de Reuil, na França.
"Esta nova unidade dobrou a capacidade de produção da vacina nos últimos anos, tornando possível fornecer uma grande parte das doses necessárias para atender às necessidades globais para a próxima década", disse a empresa.
A Sanofi informa que todo o processo de produção é complexo e pode levar até 22 meses para a produção de um único lote.
Já a Fiocruz diz que o processo pode levar entre 2 a seis meses a depender da disponibilidade do estoque do IFA (ingrediente farmacêutico ativo, espécie de solução com o vírus atenuado), que é válido por cinco anos.
Caso o IFA esteja disponível, o processo de formulação, envase, liofilização, rotulagem, embalagem e controle de qualidade leva cerca de 2 meses.
Desde dezembro de 2017, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou que farmácias aplicassem vacinas.
Até há uma semana, uma unidade da rede Drogasil em São Paulo possuía doses da vacina, que era vendida a R$ 135, mas os estoques acabaram, informou a assessoria de imprensa da rede.
Como nas clínicas particulares, a fornecedora da vacina é a Sanofi.
Fonte: G1