Quarta-Feira, 04 de Julho de 2018 - Hora:09:19

Todas as vacinas do calendário de adultos estão abaixo da meta de cobertura ideal

Desde 2004, Ministério da Saúde estabeleceu calendário de vacinação de adultos. Falta de informação e taxa de abandono são principais problemas.

 

Com o surto de febre amarela no último ano, vários brasileiros se viram diante de uma dúvida: eu já tomei essa vacina? A grande maioria não sabia a resposta. A indicação foi revacinar os adultos mesmo que muitos já tivessem tomado a vacina.

 

O calendário de vacinação não é usado apenas para as crianças, mas muitos adultos o abandonam ao longo da vida e só se vacinam em grandes campanhas ou casos de epidemia.

 

O resultado disso é que atualmente o Brasil não tem uma cobertura vacinal de adultos nem perto do desejado. Todas as quatro vacinas recomendadas para pessoas de 20 a 59 anos estão abaixo do considerado ideal de cobertura vacinal.

 

Na tríplice viral, por exemplo, a taxa de cobertura é baixíssima (4,7%) -- situação se mantém na hepatite B, na dupla dT e dTpa e na febre amarela (apesar do surto recente).

 

Calendário de vacinas

Desde 2004, o Ministério da Saúde passou a definir calendários de vacinação por ciclos de vida. Também regulamentou a vacinação do adulto e idoso para as vacinas dT (dupla- difteria e tétano) de acordo com a situação vacinal anterior, instituiu a vacina dupla viral ou tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) para o adulto do sexo feminino até 49 anos e do sexo masculino até 39 anos, em casos em que não se sabe a situação vacinal e estabeleceu a vacina influenza (gripe) em dose anual.

 

Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda 4 vacinas para adultos entre 20 e 59 anos:

 

  • Hepatite B - Três doses, de acordo com a situação vacinal
  • Febre Amarela - Uma dose se nunca tiver sido vacinado
  • Tríplice Viral – Se nunca vacinado, são duas doses para quem tem 20 a 29 anos e uma dose para 30 a 49
  • Dupla adulto (DT) – Reforço a cada 10 anos

Apesar do calendário, o Ministério da Saúde não estabelece metas de cobertura vacinal anual em adultos como faz com as vacinas infantis e também não faz balanços anuais. Um dos maiores problemas é a falta de um denominador específico, como o número de nascimentos anuais no caso das vacinas infantis, que ajude a compilar melhor os dados.

 

Resultados ruins

 Segundo dados do ministério, das vacinas do calendário adulto a única que passa dos 50% de cobertura acumulada entre 1994 e 2018 é a da febre amarela com uma cobertura de 78,8%.

 

Em boletim epidemiológico com dados até 2013, o Ministério da Saúde fez um balanço do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e relatou as dificuldades da vacinação em adultos: "Um dos grandes desafios do PNI: alcançar altas e homogêneas coberturas vacinais em grupos que ainda não lograram bons resultados. Teríamos, como exemplos, a vacinação de adolescentes e adultos contra hepatite B, gestantes com coberturas adequadas para a vacina dupla adulto e população em áreas de risco para a febre amarela, dentre outros."

 

O mesmo boletim relata que de 1994 a 2013 a taxa de cobertura vacinal acumulada da hepatite B em adultos ficou em 46%. Desde então, apesar da vacina ter sido introduzida também na rotina para adultos de 30 a 39 anos em 2013, a cobertura vacinal caiu para 39,4%.

 

Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, explica que cada vacina tem o seu perfil de cobertura ideal porque as doenças são diferentes: "Para algumas, como o sarampo, a gente precisa de coberturas acima de 95% para evitar pontos suscetíveis a circulação do vírus. Já para a febre amarela, você pode ter 99% de indivíduos vacinados e aquele 1% adoece do mesmo jeito".

 

E muitas vezes, segundo ele, os não-vacinados se beneficiam da proteção indireta de quem está vacinado, já que com uma cobertura vacinal alta alguns vírus circulam menos. Apesar disso, os índices baixos não deixam de ser preocupantes.

 

O sarampo, considerado erradicado em 2016, voltou a registrar surtos em 2 estados do país, segundo o Ministério da Saúde. Amazonas e Roraima registraram 463 casos confirmados da doença.

 

Por que adultos não se vacinam?

 O problema não é exclusivo do Brasil. Culturalmente, diversos países focaram na vacinação infantil nas últimas décadas, quando o objetivo era diminuir as taxas de mortalidade infantil para doenças como sarampo, poliomelite e paralisia.

 

Nos EUA, por exemplo, mais adultos morrem de doenças previníveis por vacinas do que crianças, diz Kfouri.

 

Ele acredita que existe uma cultura da desinformação sobre a vacina para adultos, inclusive entre os profissionais de saúde: "Nós médicos, que não fomos formados recentemente, também fomos formados com aulas de vacinação e recomendação de vacinas para criança. Não aprendemos desde a faculdade a vacinar outras faixas etárias", diz.

 

O calendário adulto é relativamente recente na saúde pública mundial e por isso uma mudança de cultura ainda leva tempo.

 

"A vacinação do adulto e adolescente é muito recente e muitas pessoas sequer conhecem o calendário do adulto. Precisamos melhorar essa comunicação do calendário da vacina no adulto", diz Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações.

 

Já para Kfouri, no entanto, está mudando "lentamente demais": "Hoje, já se fala um pouco, mas é muito aquém do que um pediatra faz em uma consulta de rotina, por exemplo".

 

O calendário adulto é relativamente recente na saúde pública mundial e por isso uma mudança de cultura ainda leva tempo.

 

"A vacinação do adulto e adolescente é muito recente e muitas pessoas sequer conhecem o calendário do adulto. Precisamos melhorar essa comunicação do calendário da vacina no adulto", diz Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações.

 

Já para Kfouri, no entanto, está mudando "lentamente demais": "Hoje, já se fala um pouco, mas é muito aquém do que um pediatra faz em uma consulta de rotina, por exemplo".

 

Fonte: G1

 

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