Ainda em escala laboratorial, a tecnologia desenvolvida pelo Instituto de Química da Unicamp é promessa para reduzir os efeitos colaterais causados pelos tratamentos oncológicos. A patente foi depositada pela universidade junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) e será apresentada pela equipe de parcerias da Agência de Inovação Inova Unicamp durante o Pharma Meeting Brazil 2017, que será realizado no dia 26 de maio, em São Paulo, com o objetivo de apresentar oportunidades de negócios para empresas farmacêuticas e da área da saúde.
A patente consiste em um processo de obtenção de nanopartículas de sílica peguiladas carreadoras de fármacos hidrofóbicos. Dito de outro modo, essa definição técnica faz referência a uma estratégia de nanomedicina para conduzir o fármaco – usado na quimioterapia – até as células cancerígenas presentes no paciente.
Como explica o doutorando Leandro Carneiro Fonseca – um dos autores da patente, ao lado do Professor Oswaldo Luiz Alves e dos pesquisadores Diego Stéfani Teodoro Martinez e Amauri Jardim de Paula –, hoje em dia usa-se uma grande quantidade de fármaco durante o tratamento de quimioterapia. Isso porque o fármaco é insolúvel em água (hidrofóbico) e o sangue é um fluido aquoso (por conter aproximadamente 92% de água). Dada a insolubilidade entre os dois, é necessária uma quantidade maior de fármaco para que este chegue em quantidade adequada até a célula que precisa ser tratada.
Com o uso da tecnologia desenvolvida pela Unicamp, o fármaco é encapsulado e está presente em menor quantidade, por se tratar de nanopartículas. A sílica, por sua vez, garante uma maior eficiência nesse processo de transporte intravenoso do fármaco até a célula. “De uma maneira muito simplória, apenas para ilustrar, é como se a nanopartícula de sílica fosse um carro que transporta de maneira mais eficiente o fármaco até a célula sem que haja um desperdício do mesmo no percurso. Isso ocorre pois o nanocarro é solúvel no sangue e seu interior, onde o fármaco está contido, é hidrofóbico, permitindo a elevada retenção do quimioterápico. Dessa forma, é usada uma menor quantidade de fármaco, justamente porque a substância chega na quantidade adequada para o tratamento”, explica o pesquisador.
Além da menor concentração necessária de dose de fármacos e também por causa dela, são parte dos benefícios da tecnologia: o não uso de solventes tóxicos nas etapas do processo, e a redução de efeitos colaterais no tratamento de câncer, como: queda de cabelo, náuseas, vômitos, entre outros.
Outra curiosidade relacionada à tecnologia é que as nanopartículas são peguiladas. Isso significa que possuem polietilenoglicol, que ficam como se fossem “fios de cabelo” em volta das nanopartículas, capazes de desviar das células brancas – que são células fagocitárias, responsáveis por identificar corpos estranhos no sangue. Isso se aplica às nanopartículas. Elas são corpos estranhos. “O uso desse polímero permite que as nanopartículas consigam desviar dessas células, aumentando a probabilidade de não serem detectadas e, consequentemente, podendo circular por mais tempo no sangue otimizando-se as chances de acesso às células cancerígenas”, explica Fonseca.
O Inca (Instituto Nacional de Câncer) aponta a ocorrência de 596.070 novos casos de câncer apenas neste ano no Brasil, de acordo com o último estudo divulgado. Entre os casos mais comuns entre os homens estão: próstata, traqueia, brônquio e pulmão, e cólon e reto. Nas mulheres: mama, cólon e reto, colo do útero.
A tecnologia descrita nesse texto está disponível para licenciamento. Empresas interessadas em mais informações podem contatar a equipe de Parcerias da Agência de Inovação Inova Unicamp pelo e-mail: parcerias@inova.unicamp.br.