Minuto a minuto somos bombardeados com notícias sobre algo que ameaça tirar o Brasil do processo de retomada de confiança tão vital para a volta do crescimento. Acredito que não haja um cidadão brasileiro de bem que não se sinta desconfortável com esta situação e procure contribuir e encontrar saídas.
Claro que é importante buscar formas urgentes de vencer a crise; mas também é vital ter a cabeça e os olhos focados na construção de uma visão de futuro.
E onde está o futuro? Durante um congresso internacional promovido recentemente em São Paulo foi apontado que o futuro está naquelas empresas que criam valor para o consumidor. São os empreendimentos inovadores e criativos, que usam a tecnologia para se diferenciar e crescer no mercado. Os que promovem alto impacto.
É lógico, portanto, que esses negócios sejam considerados estratégicos e recebam tratamento diferenciado para expandir e consolidar-se. Lógico, mas nada mais longe da realidade.
Foi noticiado recentemente, de forma quase despercebida, um dado preocupante. No Brasil, existem pouco mais de 31 mil empresas de alto crescimento, que geram cerca de 4,4 milhões de empregos e pagam R$ 103,2 bilhões em salários e outras remunerações. São as scale-ups, assim definidas por crescer pelo menos 20% ao ano, em número de funcionários e/ou receita, por três anos consecutivos. A esmagadora maioria é de pequenas e médias empresas (92%) e contrata 100 vezes mais que o restante das empresas.
Até aqui, só boas notícias, certo? Em termos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelo segundo ano consecutivo, tivemos redução, em relação ao ano anterior, do número dessas empresas (-6,4%), no pessoal ocupado assalariado (-10,4%). Em 2013, estes recuos tinham sido menos intensos: 5,2% e 5,8%, respectivamente.
Fomos investigar as causas e não deu outra: os gargalos burocráticos e tributários são gigantes, quase intransponíveis para quem quer crescer. Se, por exemplo, a empresa ultrapassa os limites que permitem sua inserção no sistema tributário simplificado, tem que migrar diretamente para o modelo oneroso que rege a vida das grandes corporações.
Outro agravante: o investimento anjo no Brasil está em desaceleração, chegando a 9% em 2016, contra os 14% de aumento registrado em 2015. Provavelmente reflexo da taxa de juros alta, que faz com que as aplicações em renda fixa sejam mais atraentes a potenciais investidores.
Não podemos virar a cara para o Brasil que dá certo e que faz a diferença. Recentemente, durante a solenidade do Prêmio Nacional de Inovação, que identifica e apoia ações inovadoras em micro, pequenas, médias e grandes empresas, tive a oportunidade de celebrar com três pequenos negócios paulistas, clientes do Sebrae-SP, que foram campeões. Eles disputaram com quase 4 mil empresas inscritas, de todas as regiões do País, e juntas com outros 16 empreendimentos se consagraram como referências nacionais em desenvolvimento de inovação.
O Sebrae-SP está fazendo sua parte, com a expansão de programas que viabilizem a criação e o fortalecimento de empresas inovadoras. Com o Startup SP, 60 startups paulistas foram selecionadas para participar do programa de aceleração de startups digitais e estão criando um admirável mundo novo, totalmente conectado com as necessidades e oportunidades da quarta revolução industrial, a era da indústria 4.0. Neste time estão também 15 mil pequenos negócios paulistas, de base tradicional, que já investiram recursos na implantação de inovações em produtos e serviços, processos e na gestão que participam do programa Agentes Locais de Inovação – ALI. Este ano o Sebrae está aplicando R$ 350 milhões em inovação, cerca de 35% do orçamento total.
Na outra ponta, a da melhoria do ambiente para empreender e investir, tivemos avanços consideráveis como a regulamentação do projeto de lei complementar (PLC) 25/2017, mais conhecido como Crescer sem Medo, que regulamentou a figura do investimento-anjo, fazendo uma distinção clara entre operador e investidor. E permite que a empresa permaneça no Simples, mesmo após receber recursos deste tipo de investidor. Também foi criada pela lei uma faixa de transição de até R$ 4,8 milhões para as empresas que ultrapassarem o teto atual.
Mas ainda há muito que avançar. Nosso trabalho agora é pela urgente aprovação das reformas previdenciária e trabalhista, pela desburocratização e criação de incentivos fiscais que garantam maior aporte de recursos de investidos privados, como já ocorre para quem investe em pequenas empresas listadas na Bolsa de Valores, por exemplo.
É a nossa contribuição para que a confiança no Brasil não seja apenas retomada, mas sim consolidada num ciclo virtuoso do desenvolvimento sustentável.
Paulo Skaf
Presidente SEBRAE-SP