Pandas gigantes foram tirados da lista de espécies sob risco de extinção em 2016. Mas um novo estudo mostra que o habitat dos animais é menor que há 30 anos, e que sua população está cada vez mais fragmentada e isolada. A situação da espécie ameaçada mais querida do mundo parecia estar melhorando: a China investiu na proteção de seus preciosos pandas-gigantes, e em 2016 a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) melhorou o seu status de 'ameaçados' para 'vulneráveis'.
Publicado nesta segunda-feira (25/09) na revista 'Nature', pesquisa alerta contra o comodismo causado por essa retirada dos pandas-gigantes da lista de espécies ameaçadas de extinção. Os resultados alertam que a perda de habitat, o turismo e os efeitos das mudanças climáticas representam uma pressão cada vez maior sobre os pandas.
Uma equipe de cientistas usou tecnologia geoespacial e dados de detecção remota para mapear os efeitos humanos sobre as últimas florestas de bambu onde vivem esses mamíferos icônicos.
"O que meus colegas e eu queríamos saber era como o habitat do panda mudou nas últimas quatro décadas", afirma Stuart L. Pimm, um dos autores do estudo, "porque a extensão e a conectividade do habitat de uma espécie também é um fator de grande importância para determinar seu risco de extinção".
Ao analisar imagens de satélite produzidas desde 1976 até hoje, os especialistas descobriram que o habitat do panda-gigante encolheu e se fragmentou durante os últimos 40 anos.
O grupo de pesquisa incluiu os estudiosos Jianguo Liu, da Universidade Estadual do Michigan (EUA), e Zhuyan Ouyang, da Academia Chinesa de Ciências, que estudaram a distribuição geográfica dos pandas desde 2001.
"As mudanças mais óbvias desde que o professor Liu e seu colega Zhiyun Ouyang visitaram a região habitada pelos pandas pela primeira vez, em 2001, foram o aumento e o incremento de autoestradas e de outras obras de infraestrutura [naquela área]", afirmou Pimm, professor de ecologia de conservação na Universidade de Duke, nos EUA, em comunicado de imprensa.
"Essas foram as principais causas da fragmentação do habitat. Em 2013, a densidade de estradas era cerca de três vezes maior do que em 1976", disse Pimm.
A pesquisa ainda constatou que a população restante de pandas-gigantes está dividida em 30 grupos isolados, 18 dos quais são compostos por menos de dez animais. Isso quer dizer que existe um alto risco para a extinção local dos pandas-gigantes.
O estudo também questiona os dados que levaram a IUCN a mudar o status dos pandas-gigantes para espécie 'vulnerável'. Os animais tinham sido listados como 'ameaçados de extinção' pela primeira vez em 1988.
Os dados que embasaram a decisão da organização internacional mostraram um aumento da população de pandas como um todo. O estudo publicado na Nature, no entanto, aponta que os métodos e territórios avaliados pela IUCN não foram consistentes.
Os cientistas dizem que há um panorama complexo envolvendo a população de pandas-gigantes. Em geral, o habitat dos pandas diminuiu 5% entre 1976 e 2001. Por outro lado, áreas individuais de proteção dos animais ameaçados tiveram uma redução média de 24%.
O novo estudo constatou também que houve um pequeno aumento no território habitado pelos pandas desde 2001, após a proibição de desmatamento com fins comerciais e a criação de novas reservas naturais a partir de 1996 – o que causou impacto positivo na população dos animais.
Porém, esses pequenos ganhos não conseguiram compensar a perda de habitat dos pandas-gigantes registrado nas duas décadas anteriores.
O aumento do turismo em áreas protegidas, mudanças na regulamentação de manejo florestal que resultam em desmatamento, bem como os efeitos das mudanças climáticas – que podem alterar a distribuição do bambu que os mamíferos usam como alimento – também ameaçam a sobrevivência dos pandas-gigantes, diz a pesquisa internacional.
Os cientistas dizem que a ação necessária mais urgente é estabelecer os chamados corredores de habitat para conectar populações vulneráveis e isoladas de pandas.
"A conservação é um processo dinâmico entre humanos e a natureza, numa constante queda de braço pela sobrevivência e pela prosperidade – então, é sempre preciso buscar novas soluções", afirma Liu.