Casos de gêmeos siameses entre humanos são bastante estudados, mas entre outras espécies animais os relatos na literatura científica são raros. Os morcegos, a segunda maior ordem de mamíferos, são abundantes em todo o mundo, especialmente nas regiões tropicais, mas até agora apenas dois casos de xifopagia eram conhecidos. O terceiro acaba de ser descrito, com um espécime encontrado no Brasil.
Um estudo publicado mês passado no periódico “Anatomia, Histologia, Embryologia” descreve um morcego encontrado embaixo de uma mangueira na cidade de Viana, no Espírito Santo, em 2001. Desde então, o raro espécime foi mantido numa coleção do Laboratório de Mastozoologia, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, mas só agora foi analisado.
Segundo as características físicas, o animal foi identificado como sendo do gênero Artibeus, que provavelmente morreu logo após o nascimento, pois ainda tinha a placenta presa ao corpo. O morcego — ou os morcegos — tem duas cabeças independentes ligadas a duas colunas vertebrais, que se fundem na região lombar. Por esse motivo, o tórax é maior que o normal.
Os membros superiores e inferiores, incluindo a asa, são semelhantes a animais sadios. O morcego tem apenas uma pélvis, um pênis e um cordão umbilical. Com exames de ultrassom, os pesquisadores identificaram dois corações independentes, mas os outros órgãos internos não puderam ser detectados.
Trata-se de um caso de gêmeos dicéfalos parapagos — com duas cabeças e fusão ventro-lateral —, o segundo mais prevalente entre humanos, respondendo por 11,5% dos caso de xifopagia. Entre morcegos, não existem dados suficientes, já que este é apenas o terceiro caso descrito na literatura científica.