Mais de sete décadas. Esse foi o tempo necessário para que a aposentada Alezina Costa Marques pudesse realizar o sonho de ir à escola. Filha de pai rígido, ela foi proibida de frequentar as aulas quando criança e obrigada a trabalhar. "Meu pai dizia: 'Filho meu não vai à escola, porque eu não ponho. A escola deles é trabalhar'. Eu ia chorando para a roça, quando eu via as outras crianças passarem com os caderninhos na mão", conta a aposentada.
O apoio que a idosa não teve dos pais, recebeu dos filhos. Para ajudar a mãe a aprender, uma das filhas escreve todos os dias em uma lousa que fica na cozinha da casa da aposentada. "Faço isso todos os dias, para ela lembrar as letras, memorizar mesmo. Vou passando para ela as frases que eu quero que ela escreva e ela vai colocando na lousa", conta a filha.
Na escola municipal onde ela estuda, em Itupeva (SP), há outras pessoas que também não puderam estudar na infância e adolescência - todos fazem parte da Educação de Jovens e Adultos. Como a maioria trabalha quase o dia todo, as aulas são diferentes das tradicionais. "Pela vida que eles têm, é muito sono, muito cansaço, então, é estímulo o tempo todo, muita brincadeira", explica a professora, Deise da Silva Simões.
Com uma vasta experiência de vida, só resta aos estudantes adquirirem conhecimento por meio dos livros. Porém, um dos maiores desafios para os professores é lidar com a evasão escolar. Há menos de quatro anos, o índice de desistência na cidade era alto - de cada dez alunos, dez abandonavam os estudos.
Aos poucos, os professores foram conseguindo reduzir esse número e, hoje, a evasão está em cerca de 60%. "Eu luto para que isso continue. Esses alunos entram e saem, mas fica aquele carinho, fica uma família", emociona-se a professora Deise. Para Alezina, a emoção é ainda maior. "A coisa mais maravilhosa é estar dentro de uma escola, aprender a ler e escrever. Eu estou muito feliz e dou conselho às minhas amigas", afima.
Fonte: g1.com