"Pessoalmente, acho que o celibato é um presente para a Igreja. Em segundo lugar, eu não concordo em permitir que o celibato seja opcional", declarou o papa, questionado sobre o possível casamento de padres ou a ordenação de homens casados dentro do rito romano da Igreja Católica.
No entanto, ele considerou "algumas possibilidades para lugares muito remotos", mencionando as ilhas do Pacífico ou a Amazônia, quando "existe uma necessidade pastoral".
"É algo em discussão com os teólogos, não é uma decisão minha", acrescentou cautelosamente.
Os católicos de ritos orientais admitem a ordenação como padres de homens casados, desde que tenham escolhido antes do diaconado serem casados ou solteiros.
O diaconado, o primeiro grau do sacerdócio, permite pregar, batizar e servir no altar. O sacerdócio então permite ser totalmente responsável por uma paróquia.
Em relação ao rito romano, observado pela grande maioria dos católicos, o papa insistiu em sua rejeição de tais práticas.
"Minha decisão sobre o celibato opcional antes do diaconato é: não, essa é a minha opinião pessoal. Mas eu não vou impô-la, para que fique claro. Talvez eu possa parecer fechado sobre o assunto, mas eu não pareço assim diante de Deus com esta decisão", disse.
O papa argentino também se apoiou em uma frase do papa Paulo VI sobre o celibato ("Eu prefiro dar a minha vida do que mudar a lei do celibato"), acrescentando: "Devemos repetir esta frase porque é uma frase corajosa, dita num momento difícil, 1968", uma referência aos movimentos de protestos estudantis em todo o mundo.
O papa Francisco afirmou em várias ocasiões que a proibição da ordenação de homens já casados não era uma doutrina fixa, parecendo abrir o debate e causando mal estar em algumas fileiras católicas.
A prática do casamento existe há séculos, e os textos bíblicos indicam que o apóstolo Pedro tinha uma sogra. A exigência de ser solteiro para entrar no clero da Igreja Católica Latina remonta apenas ao século XI.
Em março de 2017, o papa Francisco anunciou publicamente que "refletia" sobre a possibilidade de ordenar "viri probati", homens casados de idade madura envolvidos na Igreja, excluindo assim essa abertura para os homens jovens, e é claro mulheres.
A hipótese dessas ordenações estará em pauta em outubro de 2019 no próximo sínodo dedicado à Amazônia, um imenso território latino-americano que sofre com a falta de padres.
Comentando a respeito de outro delicado tema para a Igreja católica - a pedofilia -, Francisco admitiu que o problema dos abusos sexuais do clero continuará, apesar da organização no final de fevereiro no Vaticano de uma reunião global sobre "a proteção de menores".
O papa, no entanto, afirmou que a expectativa quanto a esta reunião foi superdimensionada.
"Precisamos redimensionar essa expectativa, porque o problema do abuso continuará", disse ele, ampliando o fenômeno da pedofilia para toda a sociedade porque, segundo ele, "é um problema humano que está em todos os lugares".
"Temos que resolver o problema na Igreja, mas resolvendo o problema na Igreja com uma tomada de consciência, vamos contribuir para resolvê-lo na sociedade, nas famílias, onde a vergonha faz com que escondemos tudo", destacou.
A reunião dos presidentes das conferências episcopais de todo o mundo convocada no final de fevereiro pelo papa visa a desenvolver "protocolos para avançar", uma espécie de "catequese" sobre o tema, porque "às vezes os bispos não sabem o que fazer", disse ele.
Eles também terão que "se conscientizar do drama", insistiu, porque "o sofrimento é terrível".
"E então, vamos orar, haverá testemunhos, para ajudar a tomar consciência, haverá algumas liturgias penitenciais, para pedir perdão a toda a Igreja", concluiu o papa.