Os mais de 36 mil ciclos originaram mais de 340 mil óvulos, uma taxa de fertilização de 76%. Ou seja, a cada 10 óvulos fecundados, 7,6 deram origem a um embrião. Segundo Philip Wolff, especialista em biotecnologia, esta taxa mostra que o Brasil não fica atrás dos países mais desenvolvidos.
Segundo a Anvisa, considera-se como ciclo realizado de fertilização in vitro, os procedimentos médicos nos quais a mulher é submetida à produção (estímulo ovariano) e retirada de óvulos para realizar o procedimento.
O acesso à técnica de fertilização in vitro no mundo ainda é restrito. Mesmo com o avanço de técnicas, o tratamento ainda é caro na maior parte dos países. No Brasil, custa entre R$15 mil e R$ 20 mil geralmente.
Para Dirceu Pereira, ginecologista da clínica Genics e doutor em obstetrícia, a fertilização in vitro ainda é uma técnica utilizada por casais com renda média para superior.
"Houve uma onda, até 2014, de ascenção da classe menos favorecida. Porém, com a regressão da situação financeira do país até o momento (alto índice de desemprego e baixa renda), houve um recrudescimento. Fato notório é o aumento significativo da procura pelo procedimento de mulheres em idade próxima de 40 anos, em decorrência de novo casamento ou opção por uma gestação após o sucesso profissional e financeiro", explica.
Já para Wolff o Brasil precisa melhorar em alguns pontos. O principal deles sendo a diminuição de impostos dos materiais usados no processo para que o acesso se torne mais universal.
"No Brasil, há muito que se melhorar em termos de legislação, transparência e acessibilidade dos casais ao tratamento – isto é – acesso à informação e diminuição dos impostos sobre os insumos e maquinário seria de grande valia para aumentarmos a abrangência desta tecnologia para todas as pessoas", explica.
O número de embriões congelados cresceu 13% e bateu um recorde no país: 75.557.
Antes um problema, as clínicas brasileiras já se adaptam para receber cada vez mais embriões congelados: "As clínicas de reprodução assistida conseguem expandir o acolhimento pela criopreservação, ampliando espaço físico e recursos humanos", explica Pereira.
Por outro lado, poucas pessoas doam embriões no país, seja para a ciência ou para outras famílias. Muitos dos embriões congelados em clínicas acabam abandonados, e as clínicas não têm autonomia para decidir o que fazer com eles.
"Esse fato constitui um problema pois o custo de manutenção não é desprezível. Muitos casais não respondem à chamada das clínicas caracterizando um 'abandono' injustificado", completa.
Pereira explica que existe no formulário do termo de consentimento a opção prévia de doação do embrião para pesquisa após 3 a 5 anos. Mas mesmo amparado em norma do Conselho Federal de Medicina, a insegurança jurídica do país pode gerar problemas para as clínicas de reprodução assistida, caso o casal reapareça tempo depois solicitando os embriões.
"Infelizmente ainda não temos legislação específica na nossa área. Há 30 anos o Congresso Nacional vem postergando a votação de uma lei que possa dar segurança jurídica", completa.
Além disso, Wolff explica que outros motivos, como religião, impactam na decisão e os casais preferem não ceder os embriões para pesquisa.
Segundo o Sisembrio, em 2017, apenas 122 embriões foram doados para pesquisas com células-tronco embrionárias. Uma pequena melhora em relação aos últimos dois anos, quando a taxa não chegava a 100 embriões doados.
De acordo com informações do relatório, desde a aprovação da Lei de Biossegurança, que estabelece também as normas de segurança para utilização de células-tronco para fins de pesquisa e terapia, foram doados 1.363 embriões para a realização de pesquisas com células-tronco embrionárias no Brasil.