Pesquisadores da Universidade de Johns Hopkins, nos Estados Unidos, conseguiram transplantar com sucesso 10 rins infectados com hepatite C. Aqueles que receberam os órgãos não desenvolveram a doença graças a medicamentos mais modernos contra a condição.
O feito é particularmente importante porque, nos Estados Unidos, 500 rins com hepatite C são descartados por ano. Na outra ponta, aproximadamente 100 mil pessoas aguardam na fila por um órgão.
No Brasil, o rim está entre os órgãos com maior fila de espera para transplante, junto com fígado e pâncreas, segundo o Ministério da Saúde.
Embora a hepatite C atinja principalmente o fígado, o vírus fica presente na maior parte dos órgãos -- entre eles, o rim. Por esse motivo, um transplante não poderia ser realizado usualmente sob o risco do paciente transplantado contrair a doença.
Assim, rins com hepatite C só poderiam ser usados em pessoas positivas para o vírus da hepatite. Como não há tanta gente com a condição na fila de espera, muitos órgãos acabam sendo descartados.
O estudo com a descrição do experimento foi publicado no Annals of Internal Medicine nesta segunda-feira (5).
Os transplantes de rins "doentes" foram possíveis pelo surgimento de novos medicamentos para a hepatite C nos últimos anos, condição que tinha um tratamento demorado, caro, e difícil.
Chamadas de terapias de ação direta, essas terapias impedem que o vírus se multiplique: o que leva a uma cura de até 98%. Elas também possuem menos efeitos colaterais que terapias anteriores.
Antes, como os pacientes possuíam muitas cópias do vírus, a infecção atingia praticamente todos os órgãos -- inclusive os rins, que não poderiam ser transplantados.
Dez pacientes que aguardavam por um transplante de rim concordaram em participar do estudo. Eles eram negativos para hepatite C, HIV e hepatite B, tinham em média 71 anos e estavam há quatro meses aproximadamente na fila de espera.
Os rins vieram de doadores positivos para hepatite C, que não apresentavam evidências de doença renal. Antes de doarem o órgão, eles receberam uma dose de terapia anti-hepatite C. Transplantados continuaram o tratamento por mais 12 semanas após o transplante.
O vírus nunca foi detectado em cinco dos participantes. Nos demais, baixos níveis do vírus foram detectados logo após o transplante, mas não foram mais encontrados após dias ou uma semana. Nenhum transplantado jamais desenvolveu a hepatite C. Eles foram acompanhados por um ano.
O próximo passo do estudo é replicar o resultado em mais pacientes, em um estudo multicêntrico (feito em mais de um lugar, com mais pesquisadores envolvidos).