O Grupo de Trabalho (GT) constituído pelo Conselho Universitário (Consu) para elaborar uma proposta de implementação progressiva de cotas étnico-raciais na Unicamp iniciará suas atividades no próximo dia 10 de junho. O GT terá até 30 de agosto para preparar um relatório contendo sugestões sobre o modelo de inclusão a ser adotado pela Universidade. Em seguida, o documento será discutido nas unidades de ensino e pesquisa e nos órgãos colegiados específicos, que oferecerão suas contribuições. A versão final do relatório, já contendo eventuais adequações, seguirá então para deliberação do Consu, em novembro. As cotas passarão a vigorar a partir do vestibular de 2019.
O GT será composto por 13 membros, tendo como presidente o coordenador executivo da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest), professor José Alves. Também farão parte do grupo o coordenador de pesquisa da Comvest, Rafael Pimentel Maia; dois indicados do GT responsável pela organização das audiências públicas sobre cotas, ocorridas em 2016; três representantes do Consu; dois representantes docentes da Comissão Central de Graduação (CCG); dois membros da Unicamp integrantes dos movimentos Pró-Cotas e Núcleo de Consciência Negra, respectivamente; um servidor técnico-administrativo e um representante dos estudantes. Os nomes serão indicados nos próximos dias pelo reitor Marcelo Knobel, que também preside o Consu.
A estudante Taina Aparecida Silva Santos, participante do Núcleo de Consciência Negra da Unicamp: “Temos que contribuir com o desenho do novo vestibular da Universidade, principalmente porque participamos de todo o processo de discussão que culminou com a aprovação do princípio das cotas”
De acordo com o professor José Alves, o propósito do GT é reunir a maior representatividade possível, com o objetivo de construir caminhos convergentes em direção ao modelo de cotas a ser adotado pela Unicamp. “Vamos aproveitar os dados do GT que organizou as audiências públicas, utilizar as informações acumuladas pela Comvest, analisar as experiências de outras instituições com esse tipo de ação afirmativa, estudar as legislações concernentes e aproveitar os estudos e pesquisas desenvolvidas sobre o assunto pela própria Unicamp, entre outras iniciativas. A ideia é chegarmos a uma proposta que possibilite a máxima representatividade social no interior da Universidade”, adianta.
Além disso, continua José Alves, a Comvest também vai criar um repositório em seu site, que reunirá informações sobre a questão das cotas, de modo a alimentar, da forma mais transparente possível, os debates que serão feitos pela comunidade universitária. “As discussões em torno da adoção das cotas étnico-raciais são extremamente importantes, mas os integrantes do GT vão fazer reflexões e apresentar propostas sobre dois outros princípios igualmente relevantes, que são a permanência estudantil e o desenvolvimento acadêmico dos estudantes”, assinala o coordenador executivo da Comvest.
O professor José Alves, presidente do GT: “As discussões em torno da adoção das cotas étnico-raciais são extremamente importantes, mas os integrantes do GT vão fazer reflexões e apresentar propostas sobre dois outros princípios igualmente relevantes, que são a permanência estudantil e o desenvolvimento acadêmico dos estudantes”
José Alves observa, ainda, que outra missão do GT será propor a integração das cotas étnico-raciais às iniciativas de inclusão social já mantidas pela Unicamp, caso do Programa de Ação Afirmativa para Inclusão Social (Paais), criado em 2004, e do Programa de Formação interdisciplinar Superior (ProFIS), implantado em 2011. A essa tarefa também se soma a possibilidade do uso de parâmetros adotados pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), por meio do qual instituições públicas de ensino superior oferecem vagas a candidatos participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Para a estudante Taina Aparecida Silva Santos, participante do Núcleo de Consciência Negra da Unicamp e integrante do GT que promoveu as audiências públicas em 2016, a aprovação pelo Consu do princípio das cotas étnico-raciais representou uma vitória dos movimentos sociais e estudantil. “Foi um debate longo e a discussão não foi fácil, mas no final o resultado contemplou nossas expectativas”, considera.
O professor Mário Augusto Medeiros da Silva, do IFCH: “Treze anos após a implantação do Paais, a Unicamp afirma a necessidade de combater as políticas de exclusão e de racismo, tanto na Universidade quanto na sociedade, adotando uma política de justiça social com reserva de vagas para negros e indígenas”
Ela ressaltou a importância da participação de representantes dos servidores técnico-administrativos, estudantes e dos movimentos Pró-Cotas e Núcleo de Consciência Negra no GT que sugerirá o modelo de cotas a ser adotado pela Unicamp. “Temos que contribuir com o desenho do novo vestibular da Universidade, principalmente porque participamos de todo o processo de discussão que culminou com a aprovação do princípio das cotas”, defende.
O professor do professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), Mário Augusto Medeiros da Silva, que também fez parte do GT que promoveu as audiências públicas sobre as cotas, considera que a luta antirracista ganhou força na Unicamp com a decisão do Consu. “É uma política antirracista no ensino superior com a qual a Unicamp se soma. É um momento absolutamente impar na história da Universidade. Treze anos após a implantação do Paais, a Unicamp afirma a necessidade de combater as políticas de exclusão e de racismo, tanto na Universidade quanto na sociedade, adotando uma política de justiça social com reserva de vagas para negros e indígenas. Agora, temos que buscar mecanismos técnicos para assegurar as metas que forem propostas para o vestibular de 2019”, analisa.