Um pesquisador de Santos, no litoral de São Paulo, foi o responsável por identificar um meteorito que caiu ao lado de uma escola na Vila de Serra Pelada, no Pará. Paulo Anselmo Matioli, mestre em Geologia pela Universidade de São Paulo, foi o primeiro cientista a ter acesso as amostras das rochas e foi responsável por confirmar que se tratavam de fragmentos de um eucrito, um tipo raro de meteorito originário do asteróide Vesta.
Mostra de meteorito que caiu na Vila de Serra Pelada, no Pará
Por meio das redes sociais, Matioli recebeu fotos da amostra de um material rochoso. O rapaz que postou a imagem era o geólogo Marcílio Cardoso Rocha, morador de Marabá, cidade localizada na microrregião de Parauapebas. Ele buscava ajuda de outros pesquisadores que pudessem identificar aquele material rochoso, que ele desconfiava ser de um meteorito.
“Ele falou que caiu em Curionópolis e que ele morava em Marabá. Pedi para ele mandar um pedaço para eu fazer algumas análises. Quando ele mandou o pedaço, eu já tinha comprado a passagem aérea. Não ia perder a oportunidade. Na hora que eu vi o objetivo, sabia que era um eucrito (tipo de meteorito)”, conta Matioli.
No dia 19 de junho, o pesquisador santista embarcou para o Pará e conheceu, pessoalmente, o geólogo Marcílio Cardoso Rocha. Filho de garimpeiro, o paraense nasceu e cresceu na Vila de Serra Pelada, famosa área de garimpeiros pertencente ao município de Curionópolis, e foi estudar em Marabá.
Pesquisador e a diretora da escola, Rita de Cassia da Silva, com uma amostra do meteorito
Marcilio contou ao geólogo santista que a queda do meteorito ocorreu no dia 29 de junho, próximo a escola pública Rita Lima de Sousa. Quando as pessoas viram o acontecimento, acionaram o geólogo, um dos poucos conhecedores do assunto naquela região. Porém, como não era especialista em meteoritos, ele resolveu procurar ajuda.
De madrugada, os dois pesquisadores saíram de Marabá rumo a Serra Pelada. Eles conversaram com dezenas de moradores que ouviram ou viram uma espécie de explosão, deram detalhes do fenômeno e mostraram as amostras coletadas.
Geólogo mostra o local da queda do meteorito
“Nunca fui tão bem tratado. As pessoas são humildes e verdadeiras. O meteorito caiu há poucos metros de uma escola, no dia 29 de junho, entre 10h e 11h. Os moradores escutaram várias explosões no ar. A rocha, quando está caindo, provoca um som muito parecido com a turbina de um avião. Vem em uma velocidade muito alta, de até 70 km por segundo. Quando ele está próximo, o ar está mais denso, provoca uma luz e explode. São vários sons, ocorre um rastro de fumaça. As pessoas viram e escutaram isso”, afirma Matioli.
Segundo os pesquisadores, o barulho da explosão foi ouvido em vários municípios da região. Muitos acharam que era uma bomba, a queda de um avião ou de um pedaço de ferro, já que próximo a Vila existe o Projeto Serra Leste, da Vale, que realiza a extração de minério.
No momento da queda do meteorito, crianças e funcionários estavam dentro da escola Rita Lima de Sousa. Todos ficaram com medo, por causa do forte barulho. Logo depois, todas as pessoas da escola saíram para ver o que tinha acontecido. Uma aluna pegou várias amostras, utilizando a própria blusa, e foi distribuindo para os professores e amigos. A auxiliar de secretaria da escola, Luziane Vera de Melo, de 29 anos, foi quem pegou um dos primeiros e maiores pedaços da rocha. Ela postou uma foto nas redes sociais e acionou o amigo Marcílio.
Após ouvir diversos depoimentos, os moradores não tiveram dúvidas de que realmente se tratava da queda de um meteorito em solo brasileiro, um fragmento que veio do espaço e entrou na Terra. “Eu já sabia quando vi a foto e, quando recebi a amostra, já confirmei. Quando cheguei lá, vi que as amostras faziam parte de um bloco com a mesma identidade”, disse Matioli.
Segundo Matioli, a rocha tinha por volta de seis quilos e cerca de 40 centímetros, antes de se fragmentar. "É um meteorito rochoso, tipo mais comum. Porém, pertence ao grupo dos acondritos e da classe HED, que compreende os meteoritos que vieram do asteróide Vesta. Estes são classificados como eucritos, diogenitos e howarditos", explica.
O mais novo meteorito brasileiro é um dos poucos eucritos registrados no Brasil. Além dele, há apenas outros dois registros. O primeiro ocorreu em outubro de 1923, em Serra de Magé, em Pernambuco. O segundo foi registrado em junho de 1957 em Itibira, em Minas Gerais. “No Pará é o 2º e, no Brasil, dessa tipologia de meteorito, é o 3º. É raríssimo”, afirma Matioli.
Algumas características fizeram os pesquisadores terem certeza da tipoligia do meteorito. “Ele tem uma densidade maior e é levemente magnético. A estrutura da crosta de fusão é uma característica única dos meteoritos. Outra característica são os remaglitos, que são estruturas abaloadas, como se fosse uma massa de modelar. Na crosta de fusão, elas (amostras) têm linhas de fluxo. Quando ele entra na Terra, tem uma direção preferencial e vai sendo moldado. Essas amostras têm tudo isso”, explicou.
Matioli trouxe amostras do meteorito para a Baixada Santista. O geólogo santista diz que fará intercâmbios com museus e instituições cientificas para ampliar o conhecimento de todos. Uma das amostras fará parte do acervo do Museu Jóias da Natureza, que atualmente, atua de forma itinerante. Outra rocha foi enviada para uma equipe de cientistas do Texas, nos Estados Unidos, que estudam meteoritos e irão fazer análises para descrever o material com precisão.
O meteorito se chamará Serra Pelada. “Caiu na famosa Serra Pelada, a maior mina a céu aberto do mundo. A vila de Serra Pelada, por mais que tenha ofertado ao mundo toneladas de ouro, isso não reflete nos moradores. Eles são extremamente simples, humildes. Eu garanto que Serra Pelada vai entrar de novo no mapa. Não só por ser a maior mina de ouro do mundo, mas por ter 'recebido' o mais novo meteorito do país. Como cientista, pra mim, foi um prazer. Eu tinha alguns sonhos na minha vida e esse era um deles, estar a frente da descoberta de um meteorito”, finaliza.