Num lugar onde as novas gerações de brasileiros deveriam estar sendo educadas, a violência e o desrespeito estão tirando professores das salas de aula. Transtornos mentais e comportamentais têm levado milhares a se afastar das escolas públicas.
“Você entra dentro da sala de aula, você fica assim, em pânico se vai acontecer alguma coisa”, diz a professora de escola pública Luciana Teodoro.
“Comecei a chorar, porque é a forma de gritar, socorro, eu preciso de ajuda”, conta Márcia Castilho, também professora de escola pública.
Os relatos são muitos e a lista de motivos com dor vai sendo escrita: indisciplina dos alunos, falta de apoio de pais e diretores, assédio moral e a violência que explode.
“Havia tempo que eu dizia que não fazia as atividades pedidas. Então fui cobrar, apenas cobrar. É agressivo. Não só comigo, mas com alguns colegas. Quando voltei à escola, eu tive que pedir ajuda psiquiátrica”, conta uma professora que agredida.
O que aconteceu com a professora de uma escola particular em Santos, no litoral paulista, está ganhando contornos de uma epidemia nas públicas. É o que mostram números obtidos pela GloboNews via Lei de Acesso à Informação.
Enfrentar os problemas das salas de aula está adoecendo os professores. Em 2015, mais de 25 mil professores da rede estadual de ensino em São Paulo pediram afastamento por transtornos mentais e de comportamento. Em 2016, esse número quase dobrou e problemas como depressão, ansiedade e síndrome do pânico foram responsáveis por 37% das licenças médicas. Até setembro deste ano, 27 mil professores já se afastaram.
Apesar da queda de licenças, os transtornos mentais continuam respondendo por 36% dos afastamentos. Márcia Castilho tirou três licenças este ano para tratar de depressão e ansiedade:
“Tudo dentro de você está tremendo, você tem falta de ar, aquela coisa que você não consegue respirar muitas vezes, a glote chega a fechar, é complicado.”
A Secretaria Estadual de Educação de São Paulo tem investido na figura do mediador de conflitos, professores e vice-diretores treinados com essa finalidade.
“Violência verbal, violência física, consumo de drogas lícitas, consumo de drogas ilícitas. Então esse profissional vai trabalhar esse assunto de um ponto de vista pedagógico”, diz o chefe de gabinete da Secretária de Educação de São Paulo, Wilson Levy.
Os especialistas em educação dizem que é preciso fazer mais.
“O Brasil foi colocando para debaixo do tapete as políticas docentes, como se fosse apenas uma pauta sindical. Talvez seja o maior desafio da educação brasileira, é ajudar esse professor a ser o profissional que a gente tanto precisa”, afirma a presidente executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz.