Quinta-Feira, 21 de Junho de 2018 - Hora:09:53

Hospital de Clínicas da Unicamp inaugura moderno Banco de Tecidos e Terapia Celular

 

O Hospital de Clínicas da Unicamp inaugura nesta quinta-feira (21), às 15 horas, o primeiro Banco de Tecidos e Terapia Celular da região e o segundo no interior do Estado. A nova área vai permitir o processamento, o armazenamento e a disponibilização de tecidos biologicamente seguros - ossos, cartilagens, tendões, ligamentos, meniscos e fáscias - para utilização em cirurgias nas áreas de ortopedia, neurocirurgia, otorrinolaringologia, cirurgia plástica, odontologia entre outras. No Estado existem três unidades: HC da USP, na Santa Casa de São Paulo e no Hospital Universitário de Marília.


 
O Banco de Tecidos do HC da Unicamp está montado em uma área de 260 m² com as tecnologias mais modernas empregadas na área. O destaque é para a sala limpa de 30 m² destinada ao processamento de tecidos e a cultura de células, com quatro anticâmaras com pass-through (caixas de passagem de materiais para evitar a contaminação cruzada). O local possui uma rede de gás medicinal, intertravamento automático de portas e forro filtrante com filtro absoluto. Até as luminárias são desenvolvidas para uso exclusivo.


 
A sala limpa instalada do Banco de Tecidos é a com a maior classificação de pureza existente na instituição: Grau A - ISO 5. A tecnologia de sistemas de forros filtrantes, com fluxo unidirecional de ar de altíssima pureza, é igual a de laboratórios que produzem remédios ou manufaturam componentes para satélites espaciais. "Trata-se de um ambiente onde a qualidade do ar é imprescindível no controle da contaminação de partículas para realização de procedimentos sensíveis à contaminação", explica o ortopedista Gustavo Constantino de Campos.


 
A nova área do HC da Unicamp conta ainda com uma anticâmara de acesso, um vestiário de barreira, um abrigo de resíduos, além das salas de apoio. O armazenamento dos tecidos será em duas salas de criopreservação com frezzers -80° com controle digital de temperatura. Outro equipamento disponível no local é um liofilizador de ossos, que realiza a desidratação, descontaminação e esterilização do material, o que impede o desenvolvimento de qualquer tipo de micro-organismo.


 
Ortopedistas do HC da Unicamp explicam que a cirurgia de enxerto de ossos estéreis permite uma melhora na qualidade de vida e autoestima do paciente receptor, na recuperação das atividades simples ou mesmo na saúde bucal. O maior destino desse material é para pacientes oncológicos, com politraumas ou com doenças iatrogênicas. "A absorção do osso enxertado varia dependendo do local do procedimento e da patologia primária", informa Campos.


 
Uma das fontes de fornecimento desses tecidos são os pacientes submetidos a cirurgias de artroplastias, como a colocação de prótese de quadril, na qual a cabeça femoral é retirada. É necessário autorização da doação. Outro tipo de doador, diz, é o doador cadáver desde que não seja portador de nenhuma doença transmissível como AIDS, hepatites B e C, ou mesmo contaminações bacterianas. Fatores como idade, antecedentes médicos e causa da morte também são levados em conta.


 
"A preferência é pelo doador em óbito, já que este permite a captação de um número maior de tecido ósseo do que em um doador vivo", enfatiza Campos. Especialistas afirmam que o maior problema ainda é a escassez dos tecidos disponíveis já que as famílias resistem quanto à doação dos ossos do cadáver. Porém, os médicos esclarecem que não existe qualquer problema de desfiguração do corpo, que é reconstruído com ossos sintéticos idênticos aos extraídos.


 
Segundo Luiz Antônio Sardinha, coordenador da Organização de Procura de Órgãos (OPO) do HC da Unicamp, o modelo de controle é o mesmo já aplicado para outros tipos de órgãos e tecidos. Familiares de potenciais doadores são orientados em caso de morte encefálica. Quando há disponibilidade para doação, a informação é passada para uma central, que aciona o banco de ossos mais próximo do local da extração.


 
Atualmente, os tecidos captados podem ser utilizados em tratamentos odontológicos. O paciente que apresentar perda óssea por trauma, infecção ou doença periodontal tem a oportunidade de ser tratado por cirurgias de enxerto ósseo. Essas técnicas auxiliam os pacientes na recuperação da função mastigatória e na melhora da fala.


 
Outras cirurgias são as ortopédicas, como revisão de próteses de quadril e joelho, ressecção de tumores ósseos, correção de falhas ósseas, cirurgias da coluna vertebral, correção de deformidades congênitas, cirurgias de ligamentos, substituição de meniscos e perda de cartilagem.


 
Banco de Tecidos no Brasil e no mundo - No Brasil, existem seis Banco de Ossos e Tecidos em cinco estados: Rio Grande do Sul, Paraná (HC-UFPR), São Paulo, Rio de Janeiro (Instituto Nacional de Ortopedia e Traumatologia - INTO) e Pernambuco (IMIP). No Estado de São Paulo, o banco da Universidade de Marília (Unioss) é o maior do Brasil em captação e processamento de tecidos ósseos, sendo responsável pelo fornecimento de mais de 50% do material usado nestas cirurgias em todo país.


 
O Ministério da Saúde mantém um controle rigoroso de cada material processado com número de identificação para rastreabilidade até o final do processo. Toda documentação sobre o doador e o receptor fica arquivada por 25 anos.


 
A unidade do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do HC da Universidade de São Paulo, pioneira no País, beneficia pacientes ortopédicos em tratamento por tumores ósseos ou por falta de determinados segmentos ósseos. Além disso, promove atividades para o ensino da graduação e pós-graduação médica e de pesquisa básica e tecnológica.


 
“O fornecimento dos ossos estéreis para reconstrução de tumores e ligamentos para o uso na odontologia, são algumas das coisas que pretendemos seguir com o modelo da USP. E no futuro, além da ortopedia, queremos utilizar outras áreas da medicina, como a cirurgia plástica, para casos envolvendo queimaduras, por exemplo”, diz Campos.


 
No exterior existem renomados banco de tecidos músculo-esqueléticos em instituições como o Hospital Universitário de Leicester, o maior banco de tecidos do NHS (National Health Service) no Reino Unido. Outros renomados centros de referência são o da Universidade de Harvard, em Boston, e o M.D Anderson, no Texas, nos Estados Unidos.

 

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