Heineken anunciou nesta segunda-feira (13) acordo para comprar a Brasil Kirin, dona da Schin controlada pelo grupo japonês Kirin Holdings Company. Com o negócio, a companhia holandesa se tornará a segunda maior empresa de cerveja do Brasil, acirrando ainda mais a concorrência com a Ambev e o Grupo Petrópolis.
A Brasil Kirin foi avaliada em 1,025 bilhão de euros e o valor da transação, segundo a Heineken, será de 664 milhões de euros (cerca de R$ 2,2 bilhões) em pagamento de ações. A operação ainda precisa ser aprovada por órgãos reguladores. A previsão é de que o negócio seja fechado na primeira metade do ano.
O negócio inclui a aquisição das 12 fábricas da Brasil Kirin, além da rede própria de vendas e distribuição.
Em comunicado, a gigante holandesa destacou que a Brasil Kirin teve participação de 9% no mercado de cervejas em 2015, com atuação "particularmente forte no Norte e Nordeste onde a Heikeken possui atualmente uma participação menor".
De acordo com a Heineken, a transação transformará o negócio existente da Heineken em todo o país, ampliando sua presença, aumentando a escala e fortalecendo ainda mais seu portfólio de marcas.
Após a conclusão do negócio, a companhia holandesa passará a ter uma participação de mercado de quase 19%, segundo a agência Reuters. O mercado de cerveja brasileiro é dominado pela AB InBev, a maior cervejaria do mundo, que tem uma participação de cerca de dois terços.
Além da marca Schin, o porfólio da Brasil Kirin inclui cervejas, refrigerantes, sucos, energéticos e águas de marcas como Devassa, Baden Baden, Eisenbahn, Cintra, Glacial, Água Schin, Fibz, ECCO, Itubaína, Skinka e Viva Schin.
A Heineken é a segunda maior cervejaria do mundo. Seu portfólio inclui as marcas Heineken, Amstel, Desperados, Sol, Kaiser, Kaiser Radler, Bavaria, Bavaria Premium, Bavaria 0,0% e Família Xingu.
Em comunicado ao mercado, o grupo japonês considerou que os riscos associados com a economia brasileira e a competitiva indústria cervejeira do país limitavam a possibilidade de transformar a Brasil Kirin em um negócio "rentável e sustentável no longo prazo".
Em 2011, a empresa japonesa investiu cerca de 300 bilhões de ienes, o equivalente a R$ 6,3 bilhões na época, na compra da brasileira Schincariol, que foi rebatizada no ano seguinte como Kirin Brasil. O negócio depois perdeu fatia de mercado, ativos e teve os custos elevados.
A subsidiária fechou 2015 com perdas de 114 bilhões de ienes (US$ 1,004 bilhão), o que obrigou a Kirin a vender uma de suas fábricas no estado do Rio de Janeiro para a Anheuser-Busch InBev (ABI). Em 2016, a unidade brasileira teve prejuízo operacional de R$ 262 milhões.
"Olharam o tamanho da oportunidade, mas não olharam o tamanho do problema", afirma Adalberto Viviani, da consultoria especializada em bebidas Concept, citando as dificuldades de logística e distribuição do país e as diferenças regionais. "A Kirin se fortaleceu muito no Nordeste, mas termina por ficar refém da região. Quando se atua muito forte numa região, a concorrência também te atinge com mais facilidade", avalia.
Em setembro de 2016, o grupo japonês começou negociações com sócios potenciais com o objetivo de associar-se para revitalizar as operações da Brasil Kirin.
A ideia então era debater o grau de cooperação em produção, distribuição compartilhada e abastecimento para reduzir custos, depois que a Brasil Kirin caiu para a terceira posição entre os produtores de cerveja do país.
Finalmente, a Heineken se ofereceu para comprar a filial da cervejaria japonesa. Em janeiro, as empresas confirmaram que estavam discutindo um acordo de parceria estratégica ou venda.
Para analistas de mercado, o principal incentivo da Heineken ao expandir-se no Brasil seria tornar-se um rival mais forte no coração da AB InBev (que controla indiretamente a brasileira Ambev) e dar uma resposta ao mercado global após a AB Inbev pagar quase US$ 100 bilhões pela rival SABMiller, criando a líder mundial do setor de cervejas.
"É um esboço de resposta e uma demonstração de que a Heineken tem condições de enfrentar desafios no mercado global, aumentando a sua participação num mercado importante e que é a terra da Ambev", diz Adalberto Viviani, da consultoria Concept. "A grande disputa hoje no mercado mundial é qual marca será a Coca-Cola das cervejas".
O Brasil é o terceiro maior mercado em venda de cerveja do mundo, depois de China e Estados Unidos. Em meio a recessão, a produção de cerveja caiu cerca de 2% em 2016 na comparação com 2015.
Para Viviani, a grande vantagem competitiva da aquisição da Brasil Kirin seria a aquisição de uma capacidade instalada e rede de distribuição significativas, com potencial de aumentar o alcance de suas marcas e reduzir a distância entre produção e ponto de venda.
A aquisição da Kirin levanta dúvida, porém, em relação ao modelo de distribuição e a manutenção do portfólio de bebidas não-alcóolicas, uma vez que a Heineken não atua tradicionalmente neste mercado e utiliza em boa parte do país a mesa rede de distribuição da Coca-Cola.
A Heineken estabeleceu presença no Brasil através da aquisição, em 2010, do negócio de fabricação de cerveja da mexicana Femsa, maior distribuidora de Coca-Cola no país.
Com relação ao posicionamento das diferentes marcas do portfólio, a aposta é que a distribuição de algumas marcas tende a ser ainda mais regionalizada. "A marca Kaiser tem força em Minas Gerais e Paraná, a Schin tem força no Nordeste e marca Amstel é entrante no mercado, e pode ser a grande oportunidade para a Heineken, se houver um apuro na gestão de preços e de canais", avalia Viviani.