Uma nova pesquisa brasileira publicada na revista "The Lancet"traz evidências de que a infecção pelo zika pode imunizar contra a dengue. O estudo, com pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA), analisou dados coletados em Salvador. Além disso, uma outra pesquisa chinesa já havia sinalizado que o inverso também pode acontecer: quem pega dengue pode estar mais protegido contra a zika.
O vírus da zika e o da dengue estão relacionados: as transmissões são feitas pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti. O pesquisador Guilherme Ribeiro, da Fiocruz Bahia, realiza desde 2009 junto com um grupo de pelo menos outros dez cientistas, uma análise dos números de pessoas com doença febril aguda que chegam a uma unidade de pronto-atendimento de Salvador.
De acordo com o artigo, até março de 2015, cerca de 25% dos pacientes (484 de 1937) analisados estavam doentes devido à dengue. Essa confirmação ocorria por meio de testes laboratoriais. Nos dois anos seguintes, até 2017, a frequência da dengue foi reduzida para 3% (43 de 1334). O período coincide com a chegada da zika a Salvador.
Segundo o pesquisador, como os casos de chikungunya, também transmitida pelo Aedes, continuaram ocorrendo e crescendo, o mosquito estava presente nessas localidades – o que descarta a hipótese de que a incidência da dengue tenha diminuído em Salvador por não haver mosquitos na cidade.
A prefeitura também ampliou os dados para todo o município, confirmando um declínio para a dengue após a chegada do zika. De qualquer forma, o estudo precisa ser aprofundado para a criação de evidências mais conclusivas.
Em novembro do ano passado, Jinsheng Wen, do Instituto de Arboviroses da Universidade de Wenzhou, na China, publicou um estudo na "Nature Communications" com testes em camundongos. A pesquisa indicou, ainda que de forma preliminar, o inverso da pesquisa de Ribeiro: a infecção por dengue ajuda a proteger contra a zika.
Os chineses fizeram um estudo para testar a possível imunidade "cruzada" entre os dois vírus.
Primeiro, infectaram camundongos com o vírus da dengue. As cobaias ficaram doentes, mas se recuperaram da infecção – o que demonstra que adquiriram imunidade.
Após a recuperação, animais foram infectados novamente com o vírus da zika. Também um outro grupo, não infectado anteriormente com o vírus da dengue, foi alvo da infecção pelo zika.
Nos resultados, o grupo anteriormente infectado com dengue apresentou carga reduzida de zika no sangue, nos tecidos e no cérebro.
A descoberta dos testes indica, assim, que a defesa adquirida contra a dengue pode ajudar a mitificar os efeitos neurológicos advindos do zika – já que menos cópias do vírus foram identificadas no cérebro.