Nesta segunda-feira, a Lua ficará entre a Terra e o Sol e projetará sua sombra sobre a superfície do planeta, num raro eclipse solar total que cruzará todo o território continental dos EUA. Por lá, a euforia é geral: a última vez que um eclipse total foi visto da parte continental do país foi há 38 anos. Do Brasil, moradores de alguns estados das regiões Norte e Nordeste poderão acompanhar o fenômeno parcialmente, sendo Macapá, no Amapá, o melhor ponto de observação entre as capitais.
— A faixa de totalidade cobre uma área de 280 quilômetros de largura. O incrível deste eclipse é que essa faixa de totalidade vai cruzar toda a parte continental dos EUA, da costa leste à costa oeste — explica Josina Nascimento, pesquisadora do Observatório Nacional. — O eclipse parcial pode ser visto numa faixa de 3 mil quilômetros para o norte e para o sul, que inclui as regiões Norte e Nordeste do Brasil.
De acordo com as previsões, os macapaenses poderão ver a Lua cobrindo 40,9% do Sol, com início do eclipse às 16h09min e pico às 17h09min. Moradores de Boa Vista, Belém, São Luís, Teresina, Fortaleza, Natal, João Pessoa e Recife poderão ver entre 30% e 40% do Sol coberto. Em Salvador, a cobertura será de 12,6%, e em Brasília, apenas 2%. Estados mais ao sul, incluindo o Rio de Janeiro, ficam fora da faixa do eclipse.
Os eclipses totais do Sol não são exatamente raros, acontecem aproximadamente a cada dois anos, mas a faixa de totalidade é estreita e curta. O último eclipse total visto do Brasil aconteceu em março de 2006, cobrindo uma pequena região do Nordeste, entre os estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. E a próxima vez que o fenômeno voltará a ser visto no país será em agosto de 2045. Em 2 de julho de 2019, um eclipse total vai cruzar o Chile e a Argentina, sendo visto parcialmente das regiões Sul e Sudeste, incluindo o Rio de Janeiro. O fenômeno se repetirá em 14 de dezembro de 2020.
Para os cientistas, os eclipses totais permitem observações únicas. Foi numa dessas ocasiões, em maio de 1919, que pesquisadores ingleses reunidos em Sobral, no interior do Ceará, e em São Tomé e Príncipe, comprovaram a Teoria Geral da Relatividade, de Albert Einstein. Eles precisavam fotografar estrelas durante o dia, para observar se os raios seriam entortados pelo Sol. E isso só seria possível durante um eclipse total.
— Por alguns minutos, se as condições climáticas permitirem, é possível observar estrelas no céu durante o dia, como se o dia virasse noite — diz Josina. — E todos que já tiveram a oportunidade de acompanhar um eclipse total falam sobre a beleza do momento em que o primeiro pontinho de Sol reaparece, com bastante força.
FUROR ENTRE CIENTISTAS E TURISTAS NOS EUA
Neste ano, o Observatório Nacional Solar dos EUA, em Tucson, no Arizona, montou uma operação inédita com um pequeno exército de cientistas cidadãos. Os pesquisadores têm interesse particular na coroa solar, um círculo luminoso formado durante o pico dos eclipses, mas esse período dura poucos minutos. Para prolongar a observação, o projeto Citizen Continental-America Telescopic Eclipse Experiment espalhou voluntários treinados, com um telescópio específico, que irão fotografar a coroa de diferentes partes do país, formando um filme de 93 minutos.
Além dos fins científicos, os eclipses são momentos únicos para a divulgação científica. O Google, em parceria com a Universidade da Califórnia, vai criar o Eclipse Megamovie 2017, uma compilação de imagens do eclipse enviadas por pessoas comuns. Já o projeto Life Responds, da Academia de Ciências da Califórnia, pede que a população relate como animais e plantas reagem durante o eclipse.
— Esta é uma oportunidade para atrair pessoas de todo o país a se tornarem fãs de ciência — opina a astrônoma Angela Speck, vice-presidente da Sociedade Americana de Astronomia.
Mas o eclipse atrai o interesse não apenas dos cientistas, como do público em geral. O comércio de cidades americanas que serão cobertas pela faixa de totalidade preparam produtos e serviços especiais para a ocasião. Em Depoe Bay, uma pequena cidade no Oregon com cerca de 1.500 moradores e apenas um sinal de trânsito, todas as vagas em hotéis e acampamentos estão esgotadas há meses. Localizada na costa do Pacífico, ela será a primeira a testemunhar o fenômeno, e deve atrair milhares de turistas a partir deste fim de semana.
A preparação da cidade começou há quatro anos, com uma reunião na prefeitura, mas os esforços foram concentrados nos últimos oito meses. Para receber o grande número de turistas, a cidade alugou banheiros químicos, comprou cem lixeiras adicionais e encomendou milhares de óculos de proteção que serão distribuídos para os visitantes. Os moradores foram alertados para estocarem alimentos, medicamentos e combustíveis, para o caso de desabastecimento.
— O nosso pior cenário é com todo mundo nas estradas, com carros estacionados, bloqueando o acesso para carros dos bombeiros e ambulâncias em caso de alguma emergência — disse Joshua Williams, chefe do corpo de bombeiros da cidade, em entrevista à Reuters.
CUIDADOS NA OBSERVAÇÃO
E os pesquisadores lembram que, seja no eclipse total ou no parcial, é preciso cuidado para observar o fenômeno. Nunca deve-se olhar diretamente para o Sol sem proteção, e os velhos negativos de filmes fotográficos e chapas de radiografias não funcionam para a proteção adequada. Estudos indicam que menos de 30 segundos de observação direta podem ser suficientes para provocar danos permanentes na retina, incluindo a cegueira. O uso de binóculos ou telescópios potencializam os riscos.
— A recomendação é nunca olhar diretamente para o Sol, porque existe o risco real de cegueira — alerta Josina. — O ideal é procurar centros de observação que possuam telescópios específicos ou por projeção.