O número de casos confirmados de malária no mundo diminuiu entre 2010 e 2015, mas voltou a crescer em 2016, informa relatório da Organização Mundial da Saúde divulgado nesta quarta-feira (29). O mundo registrou 216 milhões de casos em 2016, contra 211 milhões em 2015. Segundo a OMS, o registro do ano passado interrompe uma tendência de queda: entre 2010 e 2015, a incidência da doença apresentava uma diminuição de 21%.
“Quando há uma tendência de queda, acredita-se que a doença está controlada, os serviços começam a falhar e, aí, o número de casos aumenta novamente”, diz Marcos Boulos, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
O Brasil confirmou 129.251 casos em 2016, segundo a Organização Mundial da Saúde. E a tendência era de queda, já que 143.161 casos foram registrados em 2015. Especialistas, no entanto, apontam para uma tendência de aumento em 2017.
Na região amazônica, já se registra um crescimento das infecções para esse ano. A região apresentou 7,3 mil casos a mais que o primeiro semestre do ano passado. Tocantins vive um surto (aumento repentino da doença). O estado apresentou 58 casos no primeiro semestre, em comparação com 23 em relação ao ano passado.
O Brasil vinha avançando na redução do numero de casos desde 2010, entretanto em 2017 , até o mês de agosto foi registrado um aumento de 44% no numero de casos na região amazonica.
Tanto Marcos Boulos como Claudia Rios citam que o aumento pode ser explicado em parte a uma mudança nas políticas de controle e também por influência de questões climásticas.
“Quando você tem ano eleitoral no município, alguns prefeitos destinam parte do pessoal para outras funções. Ano passado foi ano eleitoral e os serviços ficaram sobrecarregados. Também sempre quando muda a gestão, há uma tendência de aumento”, diz Boulos.
“A incidência de malária no Brasil, ao longo do tempo, é muito variável, e isso está associado a múltiplos fatores como mudanças climáticas, mudança nas lideranças municipais e, portanto, nas políticas de controle”, afirma Cláudia.
Apesar da tendência global de aumento, morre menos gente em decorrência da doença. Em 2016, a OMS estimava 445 mil mortes globalmente, contra 446 mil em 2015.
A África ainda é a região mais atingida pela doença, com 90% dos casos. Lá, é mais prevalente a malária transmitida pelo Plasmodium falciparum – representando 99% dos casos. A malária transmitida por esse protozoário leva à forma mais grave da doença: o falciparum destroi os glóbulos vermelhos do sangue, o que provoca um quadro grave de anemia.
Já nas Américas, é mais prevalente o Plasmodium vivax, que corresponde a 64% dos casos. Ainda nas Américas, Brasil e Venezuela respondem por 65% dos casos.
No Brasil, a maior parte dos casos é registrada na região amazônica, onde a malária é endêmica (ocorre com frequência na região).
Segundo o documento, mais países estão perto de eliminar a malária: em 2016, 37 países reportavam menos de 10 mil casos, contra 37 países em 2010.
A OMS informa que países como Emirados Árabes Unidos (2007), Marrocos (2010), Armênia (2011), Maldivas (2015) e Sri Lanka (2016) eliminaram a doença. Países como a Argentina estão em processo de eliminação.
A eliminação, no entanto, só ocorre quando não há mais transmissão interna da doença e é diferente da erradicação, quando quase não são registrados novos casos. Também são necessários serviços constantes de vigilância para que a eliminação seja garantida.
O Brasil não está entre os países com menos de 10 mil casos -- com 129.251 casos em 2016 -- e, portanto, a meta de eliminação não é uma realidade para o nosso território.
Marcos Boulos, da USP, diz que há um ano se discutia a eliminação da malária causada pelo Plasmodium falciparum, já que havia uma tendência de queda nos casos provocados especificamente pelo parasita. Comissões de especialistas debatiam se se fazia uma estratégia focada de eliminação ou se se esperava que a eliminação fosse alcançada com a natural queda observada.
"Agora, no entanto, com o aumento, vamos ter de rever essa meta e a prioridade é a reorganização dos serviços para garantir o que vinha sendo feito", diz.
Hoje, o país tem mais de 23 milhões de pessoas em risco para a doença.